O multi-instrumentista argentino Sebastian Plano vai estar em Espinho no dia 29 de outubro, com temas do mais recente disco Save Me Not, Verve e ainda vai revelar composições inéditas.
Quem é a sua maior inspiração e porquê?
Mergulhar no meu próprio mundo, alheio ao que está à minha volta. A música tem este poder e as ideias fluem da melhor forma quando estou neste estado de espírito.
Regressemos ao início. Cresceu rodeado por música, por instrumentos e começou a tocar aos 7 anos. Apenas 4 anos depois já compunha a sua própria música. Como lhe soam agora esses temas?
Eu ainda tenho essas peças comigo. À luz do dia de hoje, soam iniciais e experimentais. Lembro-me de estar a explorar muitos géneros distintos e de me entusiasmar com novas sonoridades a todo o momento.
Atualmente, como se descreveria enquanto artista?
Sou alguém que sempre prestou atenção à minha voz interior. De outra forma, acredito que não haveria razão para fazer música. Trazer toda a experiência do meu passado de tocar em ensemble, enquanto estudava nos conservatórios, e aplicá-la para gravar instrumentos sozinho, sem dúvida, define o meu som. Dá-te a possibilidade de expressar a música exatamente da forma que tu queres.
No que à sua personalidade artística diz respeito, quando e porquê que se apercebeu de que encaixá-lo numa certa categoria ou atribuir-lhe rótulos não o satisfazia?
Assim que o público se esforça para te categorizar, aí tu sabes que estás a criar algo novo. Eu já tenho um som, ainda assim, sigo numa busca constante sem rótulos, porque esta é a forma mais emocionante de fazer música.
Quais são os desafios que encontra ao compor música de ensemble para apenas uma pessoa a tocar?
Uma vez que as minhas peças tendem a ter muita instrumentação, o maior desafio acontece durante o processo de adaptação para me apresentar ao vivo a solo. Esta é uma experiência criativa e de constante aprendizagem.
Quando estou a fazer um álbum, sou completamente alheio à forma como a peça será apresentada ao vivo. Foco-me no percurso criativo sem mais nada na cabeça.
O processo é fascinante, porque te permite juntar ou moldar qualquer ideia, na mesma medida em que um escultor faria com a sua escultura.
Há dois anos foi nomeado para um Grammy. Qual é a importância desta nomeação na sua carreira? É, de alguma forma, o reconhecimento do seu trabalho?
Definitivamente. Fico muito honrado por ter tido o Verve nomeado, em 2019. A nomeação para o Grammy foi uma surpresa maravilhosa, principalmente devido à história que o álbum carrega consigo – todos os trabalhos iniciais foram roubados e tiveram de ser reescritos e reimaginados do zero.
Com este disco, a vida deu-me um soco, naquele momento, e recompensou-me, mais tarde, pelo caminho.
Disse que ainda sente frio, quando vê o videoclip de “A Present for A Young Traveller”. Porquê que isso acontece? E porquê que esta música é tão importante para si?
Nós gravamos o videoclip num celeiro nas redondezas de Berlim, a meio do inverno. Foi um desafio gravar com -8º dentro desse celeiro.
O título desta faixa surge de uma anedota que aconteceu quando eu vim para Berlim pela primeira vez; eu cheguei à cidade para conhecer alguém que viria a traçar um novo caminho para mim. Ele abriu uma gaveta, pegou numa coisa, colocou-a nas minhas mãos e disse “toma, um presente para um jovem viajante” – eu queria que a música narrasse este conto.
O objetivo por detrás das suas criações é transportar quem as ouça para um lugar, uma memória?
O objetivo é que o público se abstraia da realidade, deixando-se levar apenas pela música. Eu acredito que a música em si tem o poder de te afastar da realidade. Foi assim que, no início, eu mergulhei de forma profunda na criação musical.
Depois, cada ouvinte deve fazer sua, cada uma das minhas peças.
Vai apresentar o seu mais recente álbum, Save me Not, em Espinho. O que pode o público esperar deste concerto ao vivo?
Com a minha música, quero despertar emoções nas pessoas. O concerto em Espinho será um solo com violoncelo e eletrónica de temas do Save Me Not, Verve e mais algumas composições que ainda não foram lançadas.
E para terminar, pode partilhar connosco um momento engraçado ou invulgar sobre si?
Sim. Em 2005, estava inscrito e pronto para começar os meus estudos no Conservatório de Música de Lisboa. Já estava a viver em Lisboa e até já tinha um aluno de violoncelo a quem já estava a dar aulas, em Português. Depois, o destino trocou-me as voltas, quando recebi um email do Conservatório de Boston a dizer que me ofereciam uma bolsa de estudo integral. Numa semana, pus-me num avião para ver se me adaptava e acabei por ficar nos EUA até concluir os estudos.