Guy Barker: “’Kind of Blue’ é, provavelmente, um dos álbuns mais íntimos e amados do século XX”


19 de Setembro, 2022   /   450
Auditório de Espinho | Academia

No próximo 30 de setembro e 1 de outubro, a Orquestra de Jazz de Espinho e a Orquestra Clássica de Espinho juntam-se, em palco, para a interpretação do arranjo orquestral do álbum Kind of Blue de Miles Davis, de autoria de Guy Barker.

Fazer um arranjo orquestral de uma obra de jazz onde predomina a improvisação e que contou com seis músicos de excelência (David Miles, John Coltrane, Cannonball Adderley, Paul Chambers, Jimmy Cobb, Bill Evans e, numa das músicas, Wynton Kelly) não é fácil, mas Guy Barker, trompetista e compositor de jazz britânico conseguiu fazê-lo, mesmo depois das inseguranças iniciais, há alguns anos atrás.

“(…) quase recusei. Porque Kind of Blue é, provavelmente um dos álbuns mais íntimos e mais amados do século XX.”, no entanto, uma lembrança de um trabalho em conjunto com Gil Evans tornou as inseguranças em excitação, em reconhecer que, de facto, seria uma oportunidade que não iria recusar. “Gil saiu do palco e voltou com várias folhas de papel e entregou à Orquestra. Naquele papel estava a introdução de piano que Bill Evans tocou logo no início do disco. Lembro-me que soava muito nobre e cheio de antecipação, quase como uma fanfarra. Por isso, sentei-me e debrucei-me sobre isso e compus completamente a introdução. E quando a terminei (…) percebi que isto ia ser possível.”.

Sobre Kind of Blue e o seu arranjo

Kind of Blue foi gravado em duas sessões, entre março e abril de 1959. Daí surgiu o disco que vai além do jazz, surgiu música conceituada e amada, com um grande impacto. O objetivo de Guy Barker era “simplesmente fazer justiça e prestar o meu respeito a todos eles (Miles, Coltrane, Cannonball Adderley, Paul Chambers, Jimmy Cobb, Bill Evans e Wynton Kelly).”.

“(…) a parte do álbum que era mais importante, tão importante como os temas, eram as improvisações dos músicos. A improvisação está no cerne de todas as peças do disco.”. Assim, e como forma de homenagem, Barker contribuiu musicalmente, inserindo-se como se fosse um outro solista de improvisação dentro do grupo, com originais que se inspiram no próprio álbum.

O “Miles Davis Sinfónico: Kind of Blue” foi escrito para uma orquestra clássica e uma orquestra de músicos de jazz, algo só por si desafiante. O segredo, conta-nos o trompetista, para que a peça soe integrada e coerente é trabalhar, não em separado, mas como um todo, como uma entidade única, independentemente das formações musicais diferentes.

Miles Davis para Guy Barker

“Miles é um indivíduo totalmente único e ele destaca-se (…). A razão para isso é que se pensarmos em certos heróis do jazz, quer seja Louis Armstrong, Charlie Parker ou John Coltrane, são indivíduos que realmente mudaram o caminho da música, deram-nos algo totalmente novo. Tal é um enorme feito. Fazer isso uma vez na vida é espantoso. Mas Miles fê-lo mais do que uma vez. Ele estava lá com Charlie Parker na ascensão do Bebop. No início dos anos 50, ele criou um som totalmente diferente com o Birth of The Cool. Depois, juntamente com Bill Evans, deu-nos as explorações modais de Kind of Blue. No início dos anos 60, formou o seu quinteto clássico com Herbie Hancock e Wayne Shorter e mudou, novamente, a música. Depois, nos finais dos anos 60, a sua inspiração foi Jimi Hendrix e Sly Stone e deu ao mundo Bitches Brew.

O que eu depreendo de Miles é que ele nunca foi de olhar para trás. Ele estava sempre a olhar para a frente. E cada vez que ele mudava a música, conseguia alcançar a perfeição nessa linguagem. Ouço o seu trabalho de qualquer época e encontro sempre algo fresco e novo e penso: de onde é que isso veio? Portanto, acho que para mim, Miles e Gil Evans, também, representam a necessidade de continuar a lutar, continuar a mudar, que é vital que nunca se fique parado.”

O Auditório de Espinho | Academia não gosta de colocar os entrevistados entre a espada e a parede, mas teve de pedir a Guy Barker para escolher uma única peça do álbum. “Antes de mais, essa é uma questão impossível porque eu amo todas, mas... Se eu quisesse compreender o humor do disco e a sofisticação da música, acho que escolheria Blue in Green.”. O AdE promete não voltar a fazer alguém escolher apenas uma das músicas do álbum de Miles Davis.

De 6 músicos, Kind of Blue foi traduzido para 70 músicos. Um trabalho que permite a difusão da mensagem sobre Miles, a difusão do próprio álbum e, por isso, só poderia resultar numa boa sensação para Guy Barker. Este é um ábum que fala com quem o ouve, é o poder dele. No dia 30 de setembro e 1 de outubro, Kind of Blue vai falar com quem o ouvir. Assim, sem palavras, apenas com os instrumentos, no Palco AdE.

Os bilhetes para este concerto estão à venda aqui ou na bilheteira local, na Academia de Música de Espinho.

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